3I/ATLAS: Sondas da ESA observam o cometa interestelar a partir da órbita de Marte

O cometa interestelar 3I/ATLAS foi flagrado pelas sondas ExoMars e Mars Express, em torno de Marte. É a primeira vez que missões fora da Terra registram um visitante de outro sistema solar, abrindo novas perspectivas sobre a origem desses corpos cósmicos.

NOTICIASASTRONOMIA

David Braian

10/16/20253 min read

As missões europeias ExoMars Trace Gas Orbiter e Mars Express, ambas em órbita de Marte, conseguiram observar de perto o cometa 3I/ATLAS, um visitante vindo de fora do Sistema Solar. As imagens, captadas entre 1º e 7 de outubro de 2025, representam a primeira vez que espaçonaves em torno de outro planeta registram um objeto interestelar.

O encontro ocorreu quando o 3I/ATLAS passou a cerca de 30 milhões de quilômetros de Marte, uma distância pequena em termos astronômicos. O evento foi cuidadosamente planejado pela Agência Espacial Europeia (ESA), que mobilizou as duas sondas para coletar imagens e dados espectroscópicos do cometa enquanto ele cruzava o céu marciano.

Segundo a ESA, a oportunidade foi única: o cometa não se aproximará tanto de nenhum planeta novamente em sua trajetória atual. Para os cientistas, trata-se de uma chance inédita de estudar um corpo originado em outro sistema estelar, composto por materiais que podem remontar à formação de mundos muito diferentes do nosso.

"O ExoMars TGO capturou a série de imagens mostradas no GIF abaixo com seu Sistema de Imagens de Superfície Coloridas e Estéreo (CaSSIS). O Cometa 3I/ATLAS é o ponto branco ligeiramente difuso movendo-se para baixo próximo ao centro da imagem. Este ponto é o centro do cometa, compreendendo seu núcleo rochoso e gelado e a cabeleira circundante"

Imagens do ExoMars TGO do cometa 3I/ATLAS

Imagens e primeiros resultados

As observações mais nítidas vieram da câmera CaSSIS, a bordo da sonda ExoMars TGO. As fotos mostram o 3I/ATLAS como um ponto difuso de luz movendo-se contra o fundo de estrelas, com uma tênue coma – a nuvem de gás e poeira que envolve o núcleo do cometa.

Mesmo sem resolver diretamente o núcleo sólido, as imagens confirmam que o objeto está ativo, liberando material conforme se aproxima do Sol. Estima-se que a coma tenha alguns milhares de quilômetros de extensão.

A sonda Mars Express também tentou registrar o fenômeno, mas as condições de observação foram mais difíceis. Os instrumentos da missão, otimizados para estudar a atmosfera de Marte, tiveram de trabalhar no limite de sensibilidade para captar um corpo que é entre 10 mil e 100 mil vezes mais fraco do que os alvos habituais. Cientistas da ESA estão agora combinando múltiplas imagens para aumentar o sinal e extrair o máximo de detalhes possíveis.

Além das fotografias, os instrumentos espectroscópicos das duas sondas – NOMAD e CaSSIS no TGO, e OMEGA e SPICAM na Mars Express – tentaram identificar os gases presentes na coma. As primeiras análises ainda estão em andamento, mas poderão revelar informações sobre a composição química do cometa e a abundância de moléculas voláteis, como água, monóxido de carbono e dióxido de carbono.

Imagens do ExoMars TGO do cometa 3I/ATLAS

Um visitante de fora do Sistema Solar

O 3I/ATLAS é o terceiro objeto interestelar já detectado, após o famoso ‘Oumuamua, em 2017, e o cometa 2I/Borisov, observado em 2019. Todos eles foram identificados por suas órbitas extremamente abertas e velocidades elevadas, que indicam origem fora do Sistema Solar.

No caso do 3I/ATLAS, as observações sugerem um corpo com cerca de 5 quilômetros de diâmetro e massa superior a 3 × 10¹⁶ gramas, de acordo com estimativas recentes de astrônomos do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics. A presença de uma coma ativa reforça que ele é composto de gelo e poeira, semelhante aos cometas “clássicos”, mas formado em um ambiente completamente diferente.

A proximidade com Marte ofereceu às sondas da ESA uma oportunidade sem precedentes de observar um cometa interestelar a partir de um ponto intermediário do Sistema Solar. Esse tipo de observação, realizada fora da órbita terrestre, fornece ângulos e condições de iluminação diferentes, complementando os dados coletados por telescópios baseados na Terra.

Desafios e perspectivas futuras

Observar o 3I/ATLAS não foi tarefa simples. O brilho do cometa é extremamente fraco, e o núcleo é pequeno demais para ser resolvido a essa distância. Mesmo assim, as equipes da ESA consideram a operação um sucesso técnico e científico.

Nas próximas semanas, os pesquisadores continuarão a analisar os dados coletados para tentar determinar a composição da coma e verificar se há variações de brilho associadas à rotação do núcleo.

A missão Juice, também da ESA e atualmente a caminho de Júpiter, deverá participar da campanha internacional de observações do 3I/ATLAS em novembro, quando o cometa estiver mais próximo do Sol e sua atividade se intensificar.