
Descoberto Fóssil de 508 Milhões de Anos Revela Segredos da Evolução dos Artrópodes
Fóssil de 508 milhões de anos revela segmentação corporal avançada em artrópode primitivo do Cambriano.
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Uma descoberta surpreendente no famoso xisto Burgess, no Canadá, está desafiando antigos conceitos sobre a evolução dos artrópodes. Pesquisadores liderados por Joseph Moysiuk e Jean-Bernard Caron descreveram um novo e pequeno predador marinho chamado Mosura fentoni, cujas características indicam que formas complexas de segmentação corporal já existiam há mais de meio bilhão de anos.
O fóssil tem aproximadamente 508 milhões de anos, datando do período Cambriano Médio, mais precisamente da idade Wuliuana, uma fase marcante da chamada Explosão Cambriana — quando surgiram os principais grupos animais conhecidos hoje.
Segmentação precoce e evolução funcional
O corpo dos artrópodes é dividido em regiões chamadas tágmata, como cabeça, tórax e abdômen. Até recentemente, acreditava-se que essa organização surgiu de forma gradual ao longo do tempo. No entanto, Mosura apresenta uma segmentação altamente diferenciada, com até 26 segmentos corporais organizados em regiões distintas: um pescoço com quatro segmentos, um mesotranco com nadadeiras largas e um posterotranco com segmentos respiratórios especializados.
Trata-se do maior número de segmentos já registrado em um radiodonte, apesar de Mosura ser um dos menores representantes do grupo. Essa segmentação avançada sugere que a diversificação funcional do corpo já era uma estratégia evolutiva consolidada no início da história dos artrópodes.
Fonte:
Moysiuk, J., & Caron, J.-B. (2025). Early evolvability in arthropod tagmosis exemplified by a new radiodont from the Burgess Shale. Royal Society Open Science, 12:242122. https://doi.org/10.1098/rsos.242122
Morfologia predatória e adaptação ao ambiente
Mosura tinha três olhos bem desenvolvidos, incluindo um olho mediano frontal, possivelmente usado para manter o equilíbrio visual enquanto nadava. Os apêndices frontais eram armados com espinhos curvos, utilizados para capturar presas, indicando um estilo de vida ativo e predador.
Outro aspecto notável é sua grande superfície branquial relativa ao tamanho do corpo, maior que a de qualquer outro radiodonte conhecido. Isso sugere uma respiração altamente eficiente, potencialmente adaptada a ambientes com baixos níveis de oxigênio — comuns em muitos depósitos do Cambriano.
Importância para a paleontologia
A existência de um tagma especializado para respiração em um animal tão antigo mostra que a regionalização funcional do corpo não apenas surgiu cedo, como também ocorreu de maneira paralela em diferentes linhagens de artrópodes. Esse tipo de evolução convergente reforça a ideia de que a segmentação e a especialização de funções foram fatores-chave no sucesso evolutivo do grupo.
Mosura fentoni amplia o entendimento sobre a diversidade morfológica e ecológica dos primeiros artrópodes e sugere que a capacidade de adaptação funcional já era um traço marcante desde o início da linhagem.

