Sinal Wow!: Novo Estudo Reacende o Mistério do Possível Contato Extraterrestre

Pesquisadores reavaliaram os dados originais do Sinal Wow! de 1977 e revelaram novas pistas sobre sua origem. Entenda por que esse enigma continua intrigando a ciência quase 50 anos depois

NOTICIASASTRONOMIA

David Braian

9/1/20254 min read

Há mais de quatro décadas, um sinal de rádio forte e inexplicável capturado pelo radiotelescópio Big Ear, da Universidade Estadual de Ohio, nos EUA, se tornou um dos maiores mistérios da astronomia moderna. Anotado com a palavra "Wow!" no papel de dados pelo astrônomo Jerry Ehman, o sinal parecia ter todas as características de uma transmissão tecnológica extraterrestre. Agora, um novo estudo publicado no Astrophysical Journal traz a análise mais completa já feita do fenômeno, revisando drasticamente suas propriedades e sugerindo uma explicação astrofísica plausível.

A Opinião Popular

Desde que a história do Sinal Wow! se espalhou, a explicação preferida do público sempre foi a mais emocionante: comunicação extraterrestre.

A combinação perfeita de fatores alimentou essa ideia:

  • Um sinal superforte e curto.

  • Na frequência exata do hidrogênio, considerada uma "assinatura universal" para civilizações tecnológicas.

  • Que apareceu apenas uma vez e nunca mais se repetiu – como um "alô" cósmico perdido.

Além disso, o contexto cultural da época ajudou: em 1977, filmes como Star Wars e Contatos Imediatos do Terceiro Grau estavam levando a humanidade a sonhar com aliens de modo mais vívido que nunca.

Por mais que cientistas tentem explicar o fenômeno com causas naturais – como nuvens de hidrogênio ou interferência –, a ideia de que não estamos sozinhos no universo é simplesmente mais fascinante. Por isso, até hoje, muita gente ainda acredita que o Sinal Wow! foi nossa maior e perdida chance de contato com outra civilização.

Uma equipe internacional de pesquisadores, liderada pelo Dr. Abel Mendez da Universidade de Porto Rico em Arecibo, recuperou e digitalizou dezenas de milhares de páginas de dados arquivados do projeto SETI de Ohio, que estavam guardadas há décadas. Usando técnicas modernas de análise, incluindo reconhecimento óptico de caracteres (OCR) e machine learning, a equipe conseguiu reavaliar com precisão inédita o tempo, a localização, a intensidade e a frequência do sinal.

As Novas Descobertas: O Sinal Era Mais Forte e Veio de Outro Lugar

Os resultados foram surpreendentes e podem explicar por que a fonte do sinal nunca foi reencontrada.

  • Localização Mais Estreita e Deslocada: A origem do sinal foi refinada para duas pequenas regiões adjacentes no céu, centradas em:

    • Ascensão Reta: 19h25m02s ± 3s ou 19h27m55s ± 3s

    • Declinação: -26°57' ± 20'
      Esta nova localização é significativamente mais precisa e está ligeiramente deslocada das estimativas anteriores, o que significa que as buscas passadas podem ter procurado no lugar errado.

  • Intensidade Extraordinária: O estudo revelou que o sinal era muito mais forte do que se pensava, com um fluxo de pico superior a 250 Janskys (a unidade de fluxo em radioastronomia). Isso o torna um evento raro e extremamente poderoso, dificilmente explicável por interferência de rádio comum.

  • Frequência Revisada: A frequência exata do sinal foi recalculada para 1420,726 MHz. Essa frequência implica que a fonte estava se movendo a uma alta velocidade radial de aproximadamente -84 km/s em relação ao nosso Sol, um movimento típico de objetos dentro da nossa galáxia, mas não consistente com uma transmissão interestelar proposital, que tentaria minimizar esse desvio.

Uma Explicação Natural: Nuvens de Hidrogênio Cósmica

A grande revelação do estudo é a forte evidência de uma origem astrofísica. Ao vasculhar os dados arquivados, os pesquisadores encontraram outros sinais fracos e semelhantes ao Wow! (que chamaram de Wow2 e Wow3), que foram circulados pela própria equipe original do Big Ear.

Ao cruzar as coordenadas desses sinais com mapas de hidrogênio atômico (HI) da via láctea, a equipe confirmou que eles se alinhavam perfeitamente com pequenas e compactas nuvens de HI frio. Essas nuvens podem, sob certas condições, produzir emissões de banda estreita semelhantes a masers (uma espécie de "laser de rádio" natural), que se assemelham muito ao padrão esperado para um sinal tecnológico.

"O Sinal Wow! foi excepcionalmente brilhante, mas não único em sua natureza. Descobrimos que a própria equipe de Ohio já havia identificado sinais semelhantes e mais fracos, que eles corretamente associaram a nuvens de HI", explica o Dr. Mendez. "Isso nos dá um caminho novo e muito plausível para explicar o fenômeno."

O que o Sinal Wow! Não Era

O estudo também se dedicou a descartar outras hipóteses populares:

  • Interferência de Rádio (RFI): A probabilidade de uma interferência terrestre aleatória gerar um sinal tão forte e com o padrão de duração exato do telescópio é de cerca de 1 em um bilhão.

  • Satélites ou Sondas: Nenhum satélite conhecido em 1977 poderia estar na posição correta ou se mover lentamente o suficiente para imitar o sinal.

  • Harmônicos de TV: Não havia transmissões de TV em Ohio nas frequências de UHF que poderiam gerar um harmônico na frequência exata do hidrogênio.

  • Atividade Solar: O Sol estava calmo naquele dia, e nenhum tipo de explosão solar conhecida produz um sinal tão estreito e duradouro.

Conclusão: Um Mistério que Persiste, mas com Novas Pistas

Embora o estudo afaste a hipótese de uma transmissão extraterrestre intencional, ele não tira o fascínio do Sinal Wow!. Pelo contrário, ele o transforma de um potencial "alô" alienígena em um raro e intrigante fenômeno astrofísico que ainda não foi totalmente explicado.

A nova localização precisa e os parâmetros revisados oferecem um roteiro para astrônomos reobservarem a região com telescópios modernos, como o JWST ou o ALMA, em busca de fontes que possam estar associadas a essas nuvens de HI ou outros objetos exóticos.

O Sinal Wow! continua sendo um símbolo poderoso da curiosidade humana e da busca por entender o cosmos. Agora, graças ao trabalho de preservação de voluntários e à tenacidade de cientistas, estamos mais perto do que nunca de resolver um de seus maiores quebra-cabeças.

Fonte: Mendez et al., "Arecibo Wow! II: Revised Properties of the Wow! Signal from Archival Ohio SETI Data", The Astrophysical Journal.
Para saber mais: https://arxiv.org/pdf/2508.10657