Trovões em Marte? Descoberta do Perseverance evidencia atividade elétrica em Marte

Os dados do rover confirmam descargas frequentes em tempestades de poeira, apontando para uma atmosfera mais reativa e complexa do que sugeriam teorias anteriores

NOTICIASASTRONOMIA

David Braian

12/2/20252 min read

Pesquisadores confirmaram a presença de descargas elétricas na atmosfera de Marte após análises detalhadas dos dados obtidos pelo rover Perseverance. A constatação surge a partir de medições acústicas e eletromagnéticas realizadas pelo instrumento SuperCam, que registrou sons semelhantes a estalos e variações rápidas de campo elétrico enquanto redemoinhos de poeira cruzavam a região explorada pelo veículo. As observações fornecem a primeira comprovação direta de eletricidade atmosférica no planeta vermelho.

Durante dois anos de operação marciana, o instrumento gravou dezenas de eventos. Em muitos deles, o rover estava imerso em redemoinhos de poeira que levantavam partículas do solo e provocavam atritos constantes entre grãos minerais. O processo, conhecido como eletrificação triboelétrica, permite que partículas adquiram carga elétrica quando se chocam. Em determinadas situações a carga acumulada é liberada de forma abrupta, produzindo pequenas descargas que lembram faíscas estáticas. São fenômenos muito mais fracos que os relâmpagos terrestres, porém cientificamente significativos.

A confirmação experimental amplia a compreensão sobre a atmosfera marciana e dialoga com estudos teóricos anteriores. Em 2023, pesquisas publicadas por outra equipe demonstraram que choques elétricos em tempestades de poeira poderiam desencadear reações químicas envolvendo sais de cloro muito comuns no solo marciano. Esses sais, quando submetidos a descargas elétricas, podem produzir compostos oxidantes e liberar gases que alteram o equilíbrio químico da superfície. A eletrificação atmosférica, portanto, surge como um elemento fundamental para explicar a formação de substâncias como os percloratos, já encontrados por diversas missões.

O novo estudo apresentado na Nature acrescenta evidências de que a presença de eletricidade estática é mais frequente do que se imaginava. As medições indicam que descargas podem ocorrer tanto em pequenos redemoinhos quanto em tempestades de poeira mais extensas. Isso sugere que a superfície do planeta é submetida regularmente a processos de oxidação induzidos por eletricidade, com potenciais implicações para a estabilidade de moléculas orgânicas. A atmosfera de Marte pode ser quimicamente mais reativa do que se supunha, o que afeta diretamente as estratégias de busca por sinais de vida passada.

Além das questões científicas, a descoberta tem consequências práticas para futuras missões. Equipamentos sensíveis podem ser afetados por descargas elétricas, mesmo que fracas. Sondas, módulos de pouso e sistemas de coleta de amostras precisam ser projetados considerando potenciais interferências eletrostáticas, especialmente durante períodos de maior atividade de poeira. A presença de descargas também pode influenciar medidas atmosféricas e de solo, exigindo novos métodos de calibração dos instrumentos.

A confirmação direta dessas faíscas marca um avanço importante na compreensão do clima marciano. O fenômeno ajuda a conectar dados ambientais, processos químicos e desafios operacionais enfrentados por missões robóticas. A partir de agora, a eletricidade atmosférica passa a ocupar um papel central na pesquisa sobre Marte, tanto para explicar sua evolução geológica e química quanto para orientar o planejamento da exploração humana.