Webb revela detalhes inéditos da maior nuvem de formação estelar da Via Láctea

O Telescópio Espacial James Webb registrou imagens inéditas da nuvem molecular Sagittarius B2, a maior região de formação estelar da Via Láctea.

NOTICIASASTRONOMIA

David Braian

9/27/20253 min read

Imagem A: Sagitário B2 (Imagem NIRCam)
Imagem A: Sagitário B2 (Imagem NIRCam)

Estrelas, gás e poeira cósmica na nuvem molecular Sagittarius B2 brilham em luz infravermelha próxima, capturada pelo instrumento NIRCam do Webb. As áreas mais escuras da imagem não são espaços vazios, mas sim áreas onde estrelas ainda estão se formando dentro de nuvens densas que bloqueiam sua luz. Imagem: NASA, ESA, CSA, STScI, Adam Ginsburg (Universidade da Flórida), Nazar Budaiev (Universidade da Flórida), Taehwa Yoo (Universidade da Flórida); Processamento de imagem: Alyssa Pagan (STScI)

Nos últimos dias, cientistas divulgaram imagens impressionantes da nuvem molecular Sagittarius B2 (Sgr B2), considerada a maior e mais ativa “criadoura de estrelas” da nossa galáxia. As observações foram feitas com os instrumentos NIRCam e MIRI do telescópio espacial James Webb.

Localizada a aproximadamente 27 mil anos-luz da Terra e a poucas centenas de anos-luz do buraco negro supermassivo central da Via Láctea (Sagittarius A*), a nuvem Sgr B2 abriga regiões extremamente densas de gás e poeira. Essas regiões bloqueavam a visão dos telescópios ópticos, mas em infravermelho Webb consegue penetrar em parte desse véu cósmico.

O que as imagens mostram

Com o NIRCam (Near Infrared Camera), Webb captou estrelas jovens e regiões de poeira quente que estavam parcialmente “escondidas” atrás de nuvens densas. Áreas escuras nas imagens não são vazios, mas locais onde a densidade de poeira ainda é tão grande que até essa luz infravermelha não consegue atravessar facilmente.

Imagem A: Sagitário B2 (Imagem NIRCam)

O MIRI (Mid Infrared Instrument) revelou emissões de poeira aquecida e permitiu ver detalhes estruturais no interior da nuvem, como regiões de formação estelar intensiva.

Os dados combinados mostram uma nuvem estratificada: há estrelas que já emergiram, regiões parcialmente ocultas e áreas onde o processo de formação estelar parece estar começando agora.

Além disso, o Webb identificou novas regiões de H II (regiões de gás ionizado ao redor de estrelas massivas), que eram até então detectáveis apenas via rádio. Isso indica que algumas estrelas jovens foram subestimadas nas observações anteriores.

Imagem B: Sagitário B2 (Imagem MIRI)
Imagem B: Sagitário B2 (Imagem MIRI)

O instrumento MIRI de Webb mostra a região B2 de Sagitário em luz infravermelha média, com poeira quente brilhando intensamente. Apenas as estrelas mais brilhantes emitem com intensidade suficiente para aparecerem através das nuvens densas como pontinhos azuis. Imagem: NASA, ESA, CSA, STScI, Adam Ginsburg (Universidade da Flórida), Nazar Budaiev (Universidade da Flórida), Taehwa Yoo (Universidade da Flórida); Processamento de imagem: Alyssa Pagan (STScI)

Imagem B: Sagitário B2 (Imagem MIRI)

Por que Sgr B2 é tão especial

Embora Sgr B2 apresente apenas cerca de 10% do material de gás comparado à área total do centro galáctico, produz cerca de metade das estrelas daquela região. Isso a torna um local de eficiência surpreendente para a formação estelar.

Também é fascinante pelo fato de estar tão próxima ao núcleo galáctico, onde campos magnéticos fortes, radiação intensa e turbulência são muito maiores do que em outras regiões da galáxia. Esses fatores dificultam, em teoria, a formação de estrelas, por isso, entender como tanta atividade estelar se sustenta ali é um desafio.

Outra descoberta interessante: Webb mostrou que a nuvem não é simétrica. Há cortes nítidos em algumas bordas e assimetrias no gás, indicando que processos externos ou forças localizadas estão moldando sua estrutura.

Implicações científicas & próximos passos

Essas imagens fornecem pistas importantes para questões que permanecem em aberto na astrofísica:

  • Formação de estrelas massivas em ambientes extremos Sgr B2 é um laboratório cósmico para estudar como estrelas grandes nascem sob densidade, calor e turbulência intensos.

  • Avaliação da subestimação estelar a existência de estrelas ocultas sugere que muitos objetos jovens podem estar “escondidos” em nuvens densas, ainda não captados por outros telescópios.

  • Estrutura e evolução interna da nuvem as assimetrias e cortes observados ajudam a entender como frentes de choque, ventos estelares ou interações magnéticas moldam nuvens densas.

  • Comparações com outras regiões da galáxia saber por que Sgr B2 é tão produtiva em comparação com outras áreas centrais pode levar a modelos mais gerais de eficiência de formação estelar.

Os cientistas irão explorar mais em detalhe os dados em diferentes comprimentos de onda, fazer mapeamentos de abundâncias químicas e estudar como as estrelas recém-formadas interagem com o ambiente ao redor.